
Todos sabemos a emergência cultural que vive o nosso Brasil, e a melhor forma de superar tal não é ignorando questões que parecem menores. A defesa dos espaços culturais, de produção e difusão de nossa cultura e de uma indústria cinematográfica com conteúdo não devem ser os últimos pontos discutidos pelo Estado e pelo povo.
Com certeza, quem gosta ou trabalha com audiovisual sabe que, na França, cinema é uma questão de estado. A França produz cinema e o governo protege, defendendo com todo furor sua cultura. E não é meramente uma declaração, nem uma formalidade: para ela, proteger sua indústria e identidade é vital!
Não apenas os franceses são os que defendem uma política agressiva de recuperação de mercado, que se propõem a subsidiar o mesmo. Na Espanha, considera-se que a TV deve participar da produção e da difusão do cinema nacional, não como competidora da produção independente e sim como incentivadora e inversora de capital financeiro para realizar as produções.
Após exemplificar atitudes de primeiro mundo, volto a falar de nosso país, onde ainda falta vigor político que decida abordar a defesa e a promoção da indústria audiovisual e cultural como questão de Estado. O governo tem criado editais e leis de incentivo à cultura, mas ainda é pouco. Precisamos e queremos mais.
O perigo de não tê-lo significa o tão simples fato de nossas expressões culturais serem literalmente digeridas no mercado, o que já vem acontecendo. Não se pode esquecer que elas, na preocupação de serem autêntica, põem em manifesto os conflitos e a vida do homem e da mulher. Este homem e esta mulher esquecidos pelo conjunto de políticas governamentais e, muitas vezes, ignorados por nós mesmos!
Não escrevo este artigo para as pessoas do meio cultural, e sim a todos trabalhadores brasileiros que devem exigir o direito de “enxergar-se” e, mais importante ainda, devem gostar e querer se enxergar.
Meu objetivo aqui, como produtora cultural, é questionar como vemos e produzimos nossa cultura. Este texto é apenas um breve início. Encerro este artigo citando uma frase do cineasta brasileiro Sérgio Sanz, durante o 35º Festival Latino-Americano de Cinema de Gramado e que exprime o meu grande questionamento: “Quando deixaremos de querer ser americanos, para sermos latino-americanos?”